Depois da Ilha dos Magos e Vicente, tinha chegado a vez de Antão, o nosso objetivo por estes dias, mais especificamente a participação no Festival dos Náufragos.
Como já vos tinha contado na primeira parte destes diários, o
Festival dos Náufragos é uma tradição dos Feiticeiros de Antão repetida a cada
cinco épocas anuais. São convidados Mestres de todos os territórios conhecidos.
São dias de conversa, de música, tertúlias de filosofia e de treino de novas
artes de combate e negociação. Mas o centro da ação tratasse de um desafiante
exercício de nome o Desterro dos Náufragos. Somos abandonados num pequeno ilhéu
nas margens de Antão onde ficava uma prisão abandonada que em tempos albergou
os Feiticeiros que haviam cometido crimes ou tinham abusado dos seus poderes.
Como conta a história, a prisão ficou abandonada e hoje era usada como mote
para este estranho Festival.
O Desterro dos Náufragos testa a tua convicção no que
supostamente aprendeste. Durante o tempo necessário voltas à tua condição de
aprendiz e aceitas rever todo o teu caminho, as principais lições e as tuas
grandes conquistas. A ideia passa por perceber se te encontras preso e fechado
ao teu caminho ou se tens de facto a destreza para ver outros. Simplificando é
um teste à tua humildade e à tua capacidade de leres os teus círculos viciosos
e virtuosos e como estes te afetam.
Aguardávamos a autorização para passar de Vicente para a
Ilha de Antão.
Tivemos então a última etapa de viagem, a passagem de
jangada entre Vicente e Antão sob a patrulha dos Feiticeiros da Ordem de Antão.
Finalmente havíamos chegado a Antão. A ilha é um regalo para
os olhos. Enormes montanhas verde escuro rematados por castanhos luminosos
viajam para além das nuvens sem que consigamos ver o topo. No meio da enorme
ilha fica o Vulcão do Paul, hoje um enorme caldeirão transformado numa selva luxuriante. Por fim, no recanto norte da ilha o Ilhéu do Desterro onde teria
lugar o Festival.
Ficamos dois dias à espera para que pudéssemos passar para o
Ilhéu. Nesses dois dias tivemos a oportunidade de conversar, ouvir e
reencontrar Mestres de todos os recantos do universo conhecido, cantar ao luar,
treinar novas técnicas ou só meditar. Era uma espécie de preparação para o que
aí vinha. Lembro-vos que eramos seis. Eu, os meus aprendizes Sims e Pachamama e ainda Linus, Edh e Sarah.
Através de um pequeno bote passamos então para o ilhéu.
Fomos divididos por grupos. Edh e Sims ficaram comigo. Sarah, Pachamama e Linus
ficaram com outro grupo.
As próximas horas, talvez dias, seriam passadas com o Mestre
Feiticeiro Loahd, o nosso mentor para os próximos tempos.
Caminhamos até às ruínas da ala norte da velha prisão de
Feiticeiros da Ilha dos Desterro. Montaríamos ali acampamento. Para a primeira
noite ateamos uma fogueira e ficamos à conversa. Loahd contou-nos a história da
sua família, como havia deixado tudo para se tornar num Feiticeiro da Ordem de
Antão e como era difícil por vezes conjugar o amor pela mulher que amava e a
missão de Mestre Feiticeiro. Era a nossa vez. Contamos o que nos trazia ali, as
maravilhas que tínhamos visto por estes dias e o que achávamos que poderíamos
descobrir, mesmo sabendo que a primeira das regras era a ausência de
expectativas. Rimos muito. Era um
ambiente de descontração e muita cumplicidade acompanhada de muito hidromel. Antes
de nos irmos recolher, Loahd lembrou-nos o porquê de estarmos ali: