Quinto dia por Terras das Ilhas do Vento. Hoje partimos de balão até Vicente, o último ponto de paragem antes de evoluirmos para a ilha de Antão onde atingiremos o nosso objetivo, participar no Festival dos Náufragos. Edh, como sempre, liderava a nossa expedição.
Os ventos não estavam a ajudar à nossa chegada, mas com a
mestria de Edh lá conseguimos aterrar. Para nos receber tínhamos Linus Freyre,
meu velho amigo e que comigo e Edh integrou os Falange, o grupo de aprendizes
onde treinei para ser Mestre da Ordem dos Cavaleiros do Poder. Linus Freyre era
o Mestre da Lua das Duas Faces, músico, especialista em autoconhecimento
experiente na arte do varapau. Também ele estava de partida para participar no
Festival dos Náufragos. Conhecedor profundo de Vicente, ele seria o nosso guia,
antes da entrada em Antão.
Vicente é uma ilha de vulcões, extensos vales de basalto e
areia de perder de vista. As suas praias são esventradas por dunas imensas cor
de ouro e as suas águas são bravias.
Para este dia, Linus iria levar-nos a experimentar uma das
mais estranhas tradições das Ilhas do Vento e em particular de Vicente, o
Feitiço da Poça.
No interior de Vicente habitam os Mornai, tribo indígena que
vive da agricultura e pesca. Os seus melhores guerreiros e exploradores são
considerados os melhores mergulhadores destas paragens. O Feitiço da Poça é uma
prova que, segundo os Mornai, te permite perceber se és alguém em quem se pode
confiar. Basicamente, o resultado da prova como que determina se és alguém em
que se pode confiar o maior dos segredos, se és alguém de palavra, se és alguém
justo e leal. A prova consiste em mergulhar na Poça de Mindeli e voltar à
superfície com o bastão de Mornai.
Antes de mergulharmos, o Sacerdote Rei dos Mornai lança o
seu bastão rumo às profundezas da Poça. Cabe-nos a nós recuperá-lo. O resultado
depois é interpretado pelo próprio Sacerdote. A prova é facultativa e usada
para resolver disputas entre tribos rivais, definir o resultado de um
julgamento para o qual não se conseguiu chegar a um juízo final ou mesmo só
para determinar se um forasteiro é digno de confiança. Ou seja, recuperar o
bastão não determina o resultado da prova. O julgamento do Sacerdote Rei é a
chave da conclusão do veredito da mesma. Este julgamento é soberano e sem
possibilidade de recurso.
Antes de nos aventurarmos na Poça de Mindeli, Linus
levou-nos a comer algo. Entretanto era a hora de nos perdermos nas profundezas
da Poça. Para este desafio apenas eu e Edh nos predispusemos a ser testados.
A Poça de Mindeli fica num declive nas margens do Mar de
Atlante. Para além de nós, eram algumas dezenas os que iriam tentar a sua
sorte.
E o desafio começou. Um após outro foram tentando a sua
sorte. Para nossa grande surpresa todos conseguiam trazer o bastão de volta.
Chegara a minha vez. Respirei fundo, pausei o batimento cardíaco e mergulhei
declive abaixo. Ao perfurar as águas do Mar de Atlante, abri os olhos e imergi
no perímetro da Poça de Mindeli. Uma luz ao fundo indicava o caminho. Era um
encandeamento libertado pelo próprio bastão. Naquele momento percebi como é que
todos haviam conseguido trazê-lo de volta. Quando peguei no bastão paralisei,
era como se este estivesse a falar comigo. Fiquei assustado, mas não me retive.
Há minha mente vieram as recordações de eu enquanto aprendiz em treino com
Fern, um dos meus melhores amigos. Foi estranho, mas continuei. Entretanto
voltei à tona com o bastão.
Edh também não teve grande dificuldade em completar a prova.
No final da mesma, um a um recebíamos o veredito por parte do Sacerdote Rei dos
Mornai. Chegada a nossa vez, o Sacerdote, de nome Dorr, fez-nos uma vénia e
agradeceu a nossa disponibilidade para nos pormos à prova. O que nos disse fica
para nós próprios, mas há uma lição que nos deixou que partilho convosco. É
sobre não ter medo de nos pormos à prova, mesmo perante o desafio que testa a
nossa fé, como era o caso do Feitiço da Poça. Dorr dirigiu-nos as seguintes
palavras:
- Tem medo de não dar o salto de fé que a tua liberdade
permite. É lá que mora o teu próximo sonho…
A nossa passagem por Vicente era curta, estava na hora de ir
rumo ao nosso objetivo final, Antão e o Festival dos Náufragos. Eramos agora
seis, Eu, Sims, Edh, Sarah, Pachamama e Linus.