Diários da Humildade - O caminho do meio - Parte V


Nono dia por Terras de Melody. Dia para dominar o último dos princípios dos Legados da Humildade: Encontra o equilíbrio e segue o caminho do meio, o que permita a passagem de todos, longe dos extremos que servem apenas a vida de alguns.

Hoje a aventura teria lugar na Cidadela de Kortne, última capital de Melody antes de ter terminado a Velha Era.

Hoje iria reunir o Conselho de Anciãos, órgão regimental de Kortne que determinava toda a política local. Era composto por sete elementos, quatro mulheres e três homens eleitos por todos os locais residentes em Kortne com mais de vinte anos.

Hoje teríamos o privilégio de participar na Sacra Fórum, cerimónia de evocação dos grandes líderes de Kortne. Era um privilégio raro permitir que forasteiros tivessem acesso a tão intimo momento.

Laure, Anciã mais antiga do Conselho de Anciãos iniciou a evocação de forma formal. Para nosso espanto ouvimos as boas e as más histórias. A evocação era sobre tudo o que fez a história de Kortne e não apenas as lendas heroicas. Tanto foi relembrado Kio, o último rei de Melody e denominado de Rei Bom, como histórias como a de Bileias, o Ansião arrogante e trapaceiro que tentou convencer a população de que o Conselho de Anciãos era corrupto e os enganava. Bileias deu origem a um motim popular que levou à morte de dezenas de populares. Aproveitou-se da insatisfação de alguns e graças a retóricas populistas ganhou a simpatia de parte da população. Com a resistência do resto do Conselho de Anciãos e perante um levantamento popular a favor do Conselho fugiu para parte incerta. Entretanto veio-se a descobrir que pretendia implementar um sistema imperialista, voltando às épocas absolutistas (em que todo o poder residia num só individuo) com o apoio de territórios estrangeiros, também eles absolutistas. 

Foi claro para mim e Mizegui o porquê de Lamah nos ter convidado a estar naquela cerimónia. Explicava de forma clara o último dos princípios dos Legados da Humildade que estavamos a treinar e que vos referi no início deste texto.

Depois da Sacra Fórum, em conversa com Mizegui, lembrei-me de algumas das mais complicadas decisões que tive de tomar e que implicavam a vida de muitos. Chegar a uma decisão de equilíbrio que permita a todos manterem e ampliarem o seu caminho de liberdade sem por em causa uma identidade e base de entendimento comuns pode ser uma conta impossível. Simplificando, encontrar o equilíbrio no caminho do meio, o que permite a passagem de todos, significa ser um Líder Humilde, capaz de olhar para todos de forma construtiva, pondo à frente de tudo a vida em comunhão e a justiça social.

Por estes dias, antes de partir, refletia que ser capaz de liderar com uma postura humilde significa saber ser invisível, significa fazer acordos com os teus inimigos, significa saber esperar pelos mais lentos a concretizar, significa perceber que poderás nunca ver os frutos que ajudaste a semear. Estava eu preparado para ser este tipo de líder? Eu próprio não tinha uma resposta conclusiva.

Os meus dia em Melody terminavam, era hora de voltar a casa. Dei um terno abraço a Lamah e de sorriso aberto sabia que voltaria.