Diários de Uhr - A história do Caimão... - Parte V

Novo dia por terras de Uhr. Hoje partiríamos para a costa de Andony, onde a floresta e o oceano se encontravam. Andony era repleta de mangais que protegiam a costa e tinha extensões de praia cor de ouro com um arvoredo denso que parecia caminhar até à praia.

Estava eu, Anny, minha irmã, e Martin.

Hoje o desafio passava por conhecer o raro caimão de Andony. Para quem não percebe de fauna, caimão é uma espécie de pequeno crocodilo que só habita em rios de frondoso caudal. O que tornava o caimão de Andony único era o facto se serem muito poucos e difíceis de avistar. Depois, eram a única espécie de caimão adaptada à vida em rio e mar.

Em tempos Andony foi afetada por um monumental tsunami. Muitas das espécies que dependiam do rio desapareceram. A água salgada tomou conta dos canais fluviais. Espantosamente alguns caimões sobreviveram e deram origem a uma nova espécie, capaz de habitar em rio, terra e mar. Até a sua dieta o caimão de Andony foi capaz de mudar. Devido à escassez de presas foi capaz de incluir várias plantas na sua dieta alimentar para sobreviver.

Para o conseguir observar construímos acampamento na copa de um portentoso embondeiro. Este ficava entre a praia e o rio, o que nos aumentava as hipóteses de avistar o nosso alvo. A partir de agora era esperar e ter sorte.

Enquanto esperávamos, Martin contava as façanhas deste incrível animal. Matin distinguia o caimão de Andony como exemplo acabado de superação da natureza e da própria vida. Martin lembrava-nos que a vida nunca foi sobre quem é mais forte ou mais fraco, a vida era sobre quem tinha a capacidade de se adaptar.

O caimão de Andony não era o mais poderoso dos crocodilos nem a mais frágil das rãs, mas era o melhor preparado para o fluxo intemporal que a vida por estas paragens obriga.

Após horas a tentar avistar o impossível, a sorte estava conosco. Lá estava ele, sereno e incauto, o caimão de Andony. Era mais um momento de privilégio. 

Naquela noite pernoitamos por Andony. No dia seguinte era altura de voltar a casa. A nossa aventura por Uhr, por agora, terminava. Mas havíamos de voltar.