Diários do Olhar Sereno - "Estás tu, sentado perante o horizonte divino..." - Parte I


Por estes dias estava mais uma vez em retiro, desta vez por terras de Tuh, região dos chamados Rios Ondulantes, nome dado pelo facto da região ser banhada por um enorme labirinto de rios circulares que permitem a vida neste local de montanhas de perder de vista e silêncio intenso.

O exercício nestes dias era de uma enorme simplicidade. Caminhar até ao inalcançável e escrever sobre o que o coração permitia. Neste primeiro dia permiti-me a antecipar o por do Sol junto a um velho junco de tronco oco e vastas folhagens perante a enormidade da vista do rio Tuh Maior. Sentei-me, puxei do meu diário simbólico, e estas foram as minhas palavras:

"Há vistas que o coração não é capaz de pausar. Há horizontes em que deixas que a melodia do tempo sereno governe cada segundo.

Estás tu, sentado perante o horizonte divino. Há tua frente, a história de vinhas ancestrais e o rio que assinala a fronteira da margem onde o sol se irá por.  Continuas sentado, a deixar o tempo fazer acontecer, só para anteceder os breves e longos momentos em que o sol se porá e te aconselha a voltar ao aconchego de outro leito onde a luz ainda se faz presente.

Falta só um copo de vinho que te permita brindar ao privilégio do olhar sereno que não veio ter contigo, mas esperou que chegasses sem planos definidos por entre vielas e caminhos ainda refeitos.

Por fim, repensas na tua mente de guerreiro que ideia é esta de olhar sereno, de tempo mal contado que dá tanta paz, tanto frio quente e tanta intensidade sussurrante.

Para terminar suspiras, o Sol já se pôs e a viagem de hoje não está completa porque ainda te falta fechar os olhos e abraçar a serenidade."

Amanhã haveria outra visão deslumbrante e mais um texto a desbravá-la.