Diários do Olhar Sereno - A lição da Montanha... - Parte IV



Estava nos meus últimos dias por Tuh, território mãe da chamada Terra dos Rios Ondulantes. Hoje o exercício era centrado na memória dos mais fortes laços que ajudaram a desenhar as pontes mais sensíveis que o nosso coração escolheu atravessar. Falava da memória dos amigos intemporais, daqueles que nos segredaram a luz que apaziguava a sua alma.

Fui fazer o trilho norte do rio Tuh Mor. Após duas horas de caminho, sentei-me perante um frondoso embondeiro, recostei-me e perante o meu diário simbólico escrevi as últimas linhas desta viagem. O tema de hoje era sobre o amigo e mestre Mizegui Takasugui e as montanhas que havíamos subido:

"Lembro-me como se fosse hoje o dia em que te vi e percebi que era "eu". Sem palavras antecipavas o que o coração gritava em surdina, eras capaz de ler o cosmos adormecido na alma, renegavas todo o tempo morto que despertasse qualquer falta de sentido.

Hoje lembro-me das armas que me ensinaste a usar e do plano de combate em forma de resiliência que fizeste questão de partilhar. Mas a história que hoje faço ouvir é sobre a primeira montanha que escolhemos escalar.

A lição era simples. Só percebes a montanha que estás a subir se chegares ao topo. Só lá de cima é possível perceber a montanha que vem a seguir, os socalcos perigosos que evitaste e o ângulo de horizonte que merece ser seguido. Só lá de cima a verdadeira montanha era capaz de revelar onde devias e poderias ter estado.

Podes até chegar à conclusão que aquela não era a montanha a subir, mas era a montanha que precisava de ser subida.

Nesse dia em que partilhamos esse horizonte, lembro-me para nunca mais esquecer. Para escolher as montanhas que não quero subir preciso de subir todas aquelas que me escolheram. E perguntam vocês: Como é que sabemos que a montanha nos escolheu? É fácil... é quando só há um caminho, o da subida. Até sempre, nobre amigo"

Estas eram as minhas últimas palavras por Tuh. A próxima viagem era já a seguir.