Diários do Olhar Sereno - "Redistribuir o tempo da tua essência" - Parte III



Estava em jornada de meditação e reflexão por terras de Tuh, a vasta região dos Rios Ondulantes. Todos os dias procurava os recantos que a minha alma nunca avistara, mas acima de tudo, sabia que tinha de procurar aquele recanto que me permitiria olhar para dentro e ressignificar as velhas ruelas da minha aura incompleta. No dia de hoje perdi-me por um velho trilho de carris abandonados que me levavam até uma mina de volfrâmio, também ela abandonada. A meio caminho, lá estavam no horizonte, a imagem dos rios ondulantes a pintar um quadro de poesia sussurrante. Como acontecera nos dias anteriores, sentei-me, puxei do meu diário simbólico, e deixei a minha essência falar através da escrita:

"Há dias em que olhas o horizonte e tentas perceber a amplitude do que a vista alcança. Paras, procuras um ponto alto e tentas permitir que os sentidos se percam na vastidão que tens perante ti. 

Agora, falta o tempo que precisas para assimilar tudo aquilo que os sentidos te trazem. O que vês vai transformar-se em emoção, a emoção numa memória e essa memória no verdadeiro horizonte que se escondia na tua pálida consciência.

Neste cálculo emocional soltas algumas notas de angústia, salpicas a mente com as melodias que aconchegam o coração e procuras pintar o quadro de essência que revela os caminhos que sabes que vais ter de trilhar. Há tua frente, os carris que escavam o horizonte que fala contigo.

Continuas num ponto alto, tens todo o horizonte para ti, a tua essência revela os caminhos da próxima etapa e então percebes que não queres ir por ali, já não precisas de ir por ali, preferias não ir por ali. Nesse momento voltas à memória dos teus mestres e lembras-te... é a altura de redistribuir o tempo da tua essência, de procurar sentido para o percurso que o teu tempo te obriga a desbravar. Lembras -te do que aprendeste, do caminho que memorizaste e por fim volta à lição que um dos velhos mestres intemporais, Paulo Feire, um dia nos ensinou:

- Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer o caminho caminhando, refazendo e retocando o sonho pelo qual se pôs a caminhar."