Diários do Reencontro - A filosofia de um poema confuso... - II Parte


Nos últimos dias estou por Milénia para o Conselho de Mestres da Ordem dos Cavaleiros do Poder. Comigo estavam  Mizegui, Canis Lupus, Cheetra, Lynus Freire, Caelum, Karin, Ant Elael, entre outros. 

A orientar esta jornada estava Mizegui, Mestre Guardador de Sonhos. Para começar os trabalhos, Mizegui tinha-nos levado a meditar nas margens da Lagoa das Visões. Nos dias seguintes treinamos as nossas artes de orientação por entre desfiladeiros e montanhas totalmente cobertas pela névoa. De volta à Lagoa das Visões, treinamos a meditação debaixo de água e a capacidade de nos conectarmos com o elemento água.

Depois de todos estes exercícios de índole física e espiritual era vez  de treinarmos a Filosofia do Cavaleiro do Poder. De barco fomos até à ilha de Gorge, uma das mais remotas de Milénia, até às Fajãs do Silêncio. Para quem não sabe, Fajãs são plataformas lávicas formadas após enormes erupções vulcânicas e que se encontram ao nível do mar. Neste caso, delimitavam a ilha de Gorge. 

Para além do nosso equipamento de sobrevivência, Mizegui pediu-nos que levássemos o nosso diário simbólico. A nossas provas exigiriam que redigíssemos o que nos ia na alma.

Chegados a Gorge, Mizegui deixou as indicações:
- Amigos quero que se isolem. Têm dois dias. Partam à procura da voz da Natureza, deixem que Gorge fale convosco. Peço é que traduzam isso num poema. Daqui a dois dias voltamos a encontrar-nos para partilhar o que cada um escreveu. Tenham um bom "deserto"...

E assim foi, durante dois dias, cada um partiu em busca do seu silêncio e da voz da Natureza de Gorge. Cada um teve de traduzir esse "deserto" num poema. Deixo-vos aqui o meu:
"Todas as histórias por contar,
Todas as histórias por reinventar,
O que amordaçamos,
O que sabemos que vamos dizer mas mesmo assim não dizemos, 
Todas as farsas, todas as divagações,
Todas as desditas,
Encontram lugar na magia de um poeta profético.

A Poesia e os seus poemas são esse caminho mal trilhado,
São a equação tremida que os Deuses permitiram,
São essa lógica a que renunciamos,
São o que nos esquecemos de ser,
Só para que tivéssemos um espaço de letras 
Onde fosse possível esconder a nossa alma adormecida.

Hoje, aqui, no meu silêncio,
Nesta melodia enevoada,
Redescubro a minha Filosofia na Poesia.
Confundo-me propositadamente
Só porque não consigo esquecer.
Perco-me desorientadamente
Só porque sei que o tempo, por agora, não está comigo.

Hoje, Cavaleiro que sou,
Deixo-me reter, deixo-me...
E tudo se resume... à filosofia de um poema confuso...
Lento, firme, meu... mas confuso."

Esta era uma daquelas vezes que não entendia o que havia escrito. Mas como o próprio Mizegui me ensinou, há fases em que estarmos confusos é o único caminho. Não porque não haja um melhor, apenas porque estar confuso também é parte do nosso tempo. 

Há noite, na companhia de uma fogueira, em roda, cada um partilhou as suas palavras.