Diários da Planície - "É só aparecer..." - Parte II

 


Quarto dia pelas Terras de Eger. Estes eram dias dedicados ao estudo das Escrituras da Planície junto de Mestre Fed e Mestra Pyrus. Como já vos havia contado as Escrituras da Planície haviam sido redigidas pelos Velhos Mestres Egerdam, ordem de monges que havia desaparecido durante a guerra da Velha Era. Para que a riqueza da sua doutrina não se perdesse no tempo dos homens, cabia agora à Ordem dos Cavaleiros do Poder, a minha ordem, proteger e partilhar a sua sabedoria.

Dedicávamos a maior parte do dia ao estudo meticuloso dos textos dos vários livros que compunham as Escrituras da Planície, mas o restante era colocado à disposição da exploração das tradições locais. Hoje fomos assistir a um espetáculo hípico de Puszta, arte guerreira de combate a cavalo. 

Os guerreiros Puszta eram um dos clãs protetores destas terras e eram conhecidos pela sua capacidade de combate a cavalo. O que tornava esta arte única era o facto de cada guerreiro utilizar cinco cavalos em simultâneo e durante o combate os conseguir dominar de pé em cima dos mesmos. Era uma visão singular de graciosidade e coordenação. Verdadeiramente espetacular. 

O momento era de rara beleza, mas exigia ao mesmo tempo uma pericia e capacidade de simbiose entre os portentosos animais e o guerreiro que desafiava a lógica. Pyrus explicava-me que aquele nível de perícia demorava anos atingir. Os guerreiros Puszta abdicavam da família e da vida social em prol da sua missão e treino constante.

No final fomos conhecer Melt, o Mestre Regente dos Puszta. Melt contou-nos como selecionava os seus guerreiros. Ele explicava que a maior parte do clã de guerreiros cavaleiros Puszta era composto por aqueles que tinham sidos os primeiros a chegar ao primeiro dia de treino. Melt referia que agarrar a oportunidade é uma atitude traduzida na iniciativa e na intuição de saber que para fazer caminho é preciso querer ser o primeiro a estar. 

Esta forma de estar lembrava-me outro dos princípios inscritos nas Escrituras da Planície e que aqui partilho convosco: "Três quartos da vida é sobre aparecer, não ficar à espera. Se apareceres, fores fazer o caminho, encarares o desafio, há sempre uma oportunidade que te irá mostrar um caminho novo. A vida não é sobre esperar pelos momentos certos, é sobre fazer os momentos certos acontecerem. Sai, aparece, faz a oportunidade."

Ainda nesse dia fui convidado a treinar com os guerreiros Puszta. Tentei colocar-me em pé em cima de dois cavalos, mas falhei redondamente. Tentei mais três vezes, mas em todas as tentativas o resultado foi um retumbante falhanço. Um pouco mais dorido, o dia terminou novamente junto dos velhos escritos das Escrituras da Planície.